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Não repartir tarefas resulta em sobrecarga e exaustão (Fotografei essa obra do escultor australiano Ron Mueck no MAM-RJ).

“Quando os pais não dão trabalho para os filhos, os filhos dão trabalho para os pais” – disse a mãe de cinco filhos que colaboravam com ela enquanto pedia para um deles pegar uma garrafa de água mineral para mim na birosca de uma comunidade ribeirinha no interior da Amazônia.

Em outra ocasião, quando eu trabalhava como voluntária com um grupo de mulheres em uma comunidade do Rio de Janeiro, uma delas contou para o grupo como agiu para parar de reclamar porque seus filhos, adolescentes e adultos, não colaboravam com as tarefas domésticas: “Comecei com as garrafas de água que ninguém enchia para guardar na geladeira. Peguei uma garrafa térmica com água gelada só para mim e escondi no armário do quarto. Quando eles perceberam que não tinha mais água gelada, reclamaram de mim. Respondi que isso era só o começo, que eu pretendia parar de fazer outras coisas em casa. Ficaram revoltados, mas, pouco a pouco, começaram até a lavar a roupa e fazer comida”.

Outra foi mais radical: trabalhando em horário integral, chegava em casa e encontrava o marido desempregado e os filhos adultos esperando que ela fizesse a comida, limpasse a casa e cuidasse da roupa de todos. “Como estou sustentando todos vocês, decidi me aposentar dentro de casa. De hoje em diante, só trabalho fora. Aprendam a se virar”!

Não é fácil resistir à pressão das críticas, cobranças e acusações. Exigir demais de si mesma, juntamente com o sentimento de culpa e a crença persistente de que a mulher é a responsável pelas tarefas domésticas (mesmo sendo a única ou a principal provedora) são fatores que alimentam a perpetuação da sobrecarga.

Quando converso com pais que se queixam de sobrecarga porque os filhos não participam das tarefas domésticas ou não administram bem o dinheiro da mesada, a primeira pergunta é: “O que vocês estão oferecendo ou fazendo a mais do que seria recomendável”?

“Quero fazer tudo pelos meus filhos” leva à sobrecarga dos pais que se desdobram em ações para satisfazer desejos e demandas e oferecem incontáveis mordomias, deixando de lado a necessidade de educar para a responsabilidade e a colaboração. Os filhos se acham com mais direitos do que deveres, pensam que devem ser servidos pelos pais. Acham que não precisam arrumar a cama, lavar a louça, fazer comida, manter a casa limpa ou, minimamente, guardar os próprios pertences em vez de deixá-los espalhados pelo chão.

Para refletir:

  • Se a casa é de todos, todos colaboram. Como fazer acordos de bom convívio no espaço coletivo?
  • Se estou com sobrecarga, o que posso deixar de fazer?
  • Como posso agir de forma mais eficaz, em vez de reclamar, cobrar e me queixar?