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Tragédias pessoais e coletivas refletem o ciclo de destruição-reconstrução.

Quase todos lembram onde estavam quando sofremos coletivamente o impacto do 11 de setembro, que inaugurou a era do medo dos ataques terroristas. Conversando com um grupo de amigos sobre o tema das tragédias, falamos também da campanha Setembro amarelo, do CVV, que alerta para a importância da prevenção ao suicídio. A atenção à mudança de comportamento da pessoa que progressivamente perde a esperança e acentua o desespero de não ver outra saída a não ser terminar com a própria vida pode motivar acolhimento e ações eficazes para prevenir essa tragédia.

Alguns participantes, eu inclusive, falaram do impacto do suicídio na família. Meu avô materno, em dificuldades financeiras, se suicidou quando minha mãe tinha apenas onze anos. Ela frequentemente falava sobre esse trauma nunca superado. Outros relembraram casos do noticiário em que uma pessoa matou toda a família e, em seguida, se suicidou. Não viu outra saída para solucionar seus problemas.

Por outro lado, falamos sobre muitas histórias de reconstrução e novo sentido da vida a partir de uma tragédia. Assisti, há algum tempo, a apresentação do Instituto Dimicuida para alertar crianças, adolescentes e famílias sobre as “brincadeiras perigosas” na internet. Esse trabalho foi iniciado pelo pai de um adolescente, que morreu asfixiado ao praticar o “jogo do desmaio”, com a missão de preservar a vida de outros jovens.

A reconstrução, junto com a solidariedade, surge também como resposta a tragédias que impactam um grande número de pessoas, como enchentes, furacões e outras catástrofes naturais ou provocadas pela ação humana. Alguns relembraram as ações de reconstrução no Japão, após a tragédia de Hiroshima e Nagasaki e, mais recentemente, da que aconteceu com o reator nuclear em Fukushima. Conversamos também sobre a tragédia do atual e crescente fluxo migratório de milhões de pessoas, que necessitam de acolhimento e compaixão dos países mais favorecidos.

A natureza também se reconstrói misteriosamente após grandes tragédias. Trinta anos após o acidente nuclear de Chernobyl, em que toda a população da cidade teve que ser evacuada devido à intensa radiação, a vida selvagem floresce, com plantas e o retorno de grandes animais e muitos pássaros. Fênix ressurge das cinzas!

As ações de prevenção são muito importantes, assim como a possibilidade de alertar populações para tragédias naturais iminentes. Proteger casas e estocar mantimentos quando um furacão se aproxima, construir prédios que oscilam levemente para não serem destruídos por terremotos são algumas ações que minimizam danos e motivam solidariedade para prestar socorro quando necessário.

Há tragédias que passam de uma geração a outra, perpetuando um ciclo de pobreza e carência de oportunidades, que deveriam inspirar políticas públicas mais eficazes. É o que acontece quando vemos a situação de muitas comunidades em que há alto índice de gravidez precoce e não planejada (por vezes em várias gerações das mesmas famílias), abandono, violência intrafamiliar, aliciamento de crianças e jovens para o tráfico de drogas e para a prostituição.

Diante das tragédias, além da solidariedade e da compaixão que precisam ser oferecidas, é preciso contar com a força da resiliência – pessoal, familiar, comunitária – que propicia a criação de recursos para enfrentar enormes adversidades.