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Legenda: Quando ficamos acorrentados ao medo, nosso espaço vital encolhe (Fotografei no Jardim das Esculturas, de Rogério Bertoldo, em Júlio de Castilhos, RS)

O medo faz parte do nosso equipamento inato. Ao perceber o perigo (real ou imaginário), nosso cérebro aciona a reação para lutar, fugir ou paralisar. Sentir medo é essencial para a sobrevivência e a autoproteção. Mas também pode nos acorrentar, impedindo a exploração mais ampla dos territórios da vida, inibindo a ousadia, a experimentação e a inovação.

Em conversa com amigos sobre o tema, começamos pelo medo na própria gestação. Alguém mencionou o conceito de “barriga medrosa” – o medo de passar por outra perda gestacional. Uma participante contou que nasceu após a perda de uma irmã, e recebeu o nome da que morreu. Eu mesma fui a “sobrevivente” entre duas gestações de minha mãe. Outra, gestada durante a Segunda Guerra Mundial, ouvia sua mãe falando sobre o medo do mundo e do que viria depois.

Há medos nutridos pelo contexto em que vivemos. Quando há muita violência nas ruas, há quem deixe de sair à noite. Mas, ao viajar para países com maior segurança pública, esse medo não se manifesta. Adultos que, quando adolescentes, saíam sem medo, preocupam-se quando seus filhos adolescentes não chegam no horário combinado. E muitos filhos, adolescentes e adultos, alertam os pais sobre o perigo das ruas.

O medo se expressa de várias maneiras no decorrer da vida. Em crianças: medo do escuro, de que os pais morram e ela fique sem ter quem lhe ampare, de ser rejeitada pelos colegas. Em adolescentes: tudo é intenso e dramático, colorindo o medo da perda do primeiro amor, da não aceitação dos outros por não ter o corpo de acordo com os padrões de beleza, de não ser popular nas mídias sociais. Nos jovens, medo de não escolher a profissão “certa”, de não conseguir se colocar no mercado de trabalho nesse mundo imprevisível e sem garantias. Em adultos: medo de ter filhos nesse “mundo louco”, de se envolver em uma relação amorosa e sofrer, de sair de um relacionamento abusivo e não encontrar alguém “melhor”. Na velhice, medo do desamparo, de “dar trabalho para os outros”, de não ter uma fonte de sustento financeiro. O medo do sofrimento prolongado, para muitos, é maior do que o da própria morte. Nesse tema, vale a pena assistir a palestra de Ana Cláudia Arantes, médica especialista em cuidados paliativos, que indica caminhos para lidar com esse medo.

Por fim, muitos também citaram o medo do que virá com o próximo governo, em um cenário tão polarizado nas eleições.

É preciso equilibrar a coragem e a cautela para lidar com os medos que nos assombram. E se esforçar para distinguir entre os perigos reais e os que são nutridos por pensamentos catastróficos. Vale expandir o diálogo interno: “O que de pior pode realmente acontecer”? “Vou desafiar esse medo, talvez o que imagino não aconteça”; “Já passei por experiências dolorosas e sobrevivi”.

Expandir a capacidade amorosa, a fé e a resiliência são recursos poderosos para reduzir o medo e fortalecer a coragem. No curso oferecido pela Universidade de Yale sobre a ciência do bem-estar, um dos temas é a capacidade de descobrir forças internas que são acionadas quando nos colocamos diante de desafios. Somos mais resilientes do que imaginamos!

Ana Cláudia Arantes – Como envelhecer:

https://www.youtube.com/watch?v=zcj5DVTciIw&feature=youtu.be

Yale University: The Science of Well-Being.

https://www.coursera.org/learn/the-science-of-well-being/