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A interação de muitos fatores conduz algumas pessoas ao cultivo do ódio.

Sempre que ocorrem massacres em que atiradores matam alunos, professores e funcionários em escolas, uma das questões que sempre surge é se essas pessoas sofreram bullying. A perplexidade coletiva despertada pelo choque dessas notícias motiva a busca das possíveis causas desse horror. No entanto, é importante esclarecer que bullying não é causa única de barbárie.

Ações de extrema violência e crueldade acontecem pela interação de muitos fatores. Um enorme número de pessoas sofre bullying, cyberbullying e outras formas de assédio virtual sem cultivar ódio dentro de si. Sob a pressão de ataques severos ou persistentes, aliados a outros fatores, muitos desenvolvem síndrome do pânico ou depressão. Mas entre desejar trucidar pessoas para se vingar do mal que sofreu e partir para uma ação violenta no mundo real há uma enorme diferença. Não há explicações simples para a barbárie que caracteriza esses massacres.

Ao decidir escrever “Bullying e cyberbullying”, coloquei como subtítulo “O que fazemos com o que fazem conosco” justamente para analisar essa questão. Há diversas maneiras de reagir aos ataques: ampliar recursos de ação e redes de apoio, fortalecer a assertividade para sair da posição de alvo, desesperar-se e achar que não saída para o problema, tornar-se autor de bullying para conquistar poder e por aí vai.

Na década de 1990, a UNESCO lançou o Programa Mundial da Cultura da Paz. Na ocasião, consultou pesquisadores de vários países com a pergunta: A violência é inata no ser humano? O consenso geral, que consta da Declaração de Sevilha, é que a violência é uma linguagem aprendida. O que é inata é a raiva, a energia agressiva. No processo educacional, precisa ser canalizada para fins construtivos, tais como assertividade, determinação e persistência para enfrentar obstáculos.

Quando o autocontrole das emoções é construído de forma satisfatória, aprendemos a tomar conta da raiva antes que ela tome conta de nós. Ou seja, nosso freio interno (fortalecido por valores morais, ética, compaixão, empatia) impede que a raiva transborde e siga o caminho do ódio e da violência. Mas quando não há um sentido da vida a direcionar nossos projetos e os transtornos psicológicos (como a depressão e ideias suicidas) são graves, a dor emocional da humilhação e de agressões sofridas podem se transformar em ódio e em desejo de vingança. Ou então, como nos casos de psicopatia, os outros são destituídos de humanidade, e a pessoa premedita friamente seus atos, como se tudo fosse um jogo de guerra virtual em cenários reais, assassinando pessoas de carne e osso.

Há muitas vertentes a se considerar no cultivo do ódio. A linguagem da violência presente na família ou na comunidade, a cultura machista que confunde masculinidade com o uso de força bruta, a admiração social pelos “heróis” truculentos, a participação em grupos que disseminam mensagens de ódio e encorajam ações destrutivas (incluindo as autodestrutivas como mutilação e suicídio), a adesão a fóruns na internet que propagam redes de ódio (os “chans”), como um grupo de pertencimento.

Como a violência é uma linguagem aprendida, ela pode ser desaprendida. Podemos cultivar esperança, amor, solidariedade e compaixão, mesmo quando estamos em cenários sombrios.

http://www.comitepaz.org.br/sevilha.htm – Declaração de Sevilha sobre a violência.