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Sentimentos misturados refletem conflitos internos (Fotografei uma tela de Guignard).

 

No reino dos sentimentos, os opostos coexistem em proporções variadas, delineando conflitos internos que surgem quando precisamos tomar decisões importantes, fazer escolhas complexas, pesar prós e contras antes de entrar em situações novas. “Será que vale a pena eu me casar com ele?”; “A proposta do novo trabalho é ótima, mas eu terei que morar em outra cidade, será que vou me adaptar?”

“Quero e não quero”, “gosto dessa ideia e não gosto ao mesmo tempo”. Medo e desejo, coragem e cautela: tudo isso se mistura.

Dei uma aula online cujo tema era: Psicologia da gravidez – os matizes da ambivalência, que gerou uma conversa muito interessante com as dezenas de pessoas presentes na sala virtual. Ter um filho é uma experiência profundamente transformadora e, por isso, gera mistura de sentimentos não só para decidir engravidar como também no decorrer da gestação. Vale ressaltar que essa mistura de sentimentos é dinâmica e depende de vários fatores.

Mesmo em uma gestação planejada é comum surgir a ambivalência: “Será que esse era mesmo o melhor momento para engravidar? Não deveria ter esperado até terminar minha pós-graduação?” Quando o medo de assumir o desejo de ter um filho é intenso, é comum acontecer a gravidez “planejadamente acidental”: o desejo inconsciente motiva o esquecimento de tomar a pílula ou colocar o diafragma. Essa mistura de sentimentos acontece também no “homem grávido”: “Está tudo tão difícil com dois filhos, e ela engravidou do terceiro…”

O medo do futuro, pessoal ou coletivo, dá forte colorido à mistura dos sentimentos: “Será que vou conseguir dormir uma noite inteira depois que o bebê nascer?”, “Será que vou conseguir conciliar trabalho e maternidade?” “Às vezes eu me acho louca por ter tido um filho com esse mundo do jeito que está”.

Para entender melhor a mistura de sentimentos é importante olhar para o contexto maior. Como é a rede de relacionamentos? Com quem podemos contar? “Foi difícil assumir essa gravidez sozinha, sem apoio da família e do companheiro”. É bom lembrar que há quem encontre apoio em amigos e até em grupos online de pessoas que estão passando por situações semelhantes. É o que aconteceu, por exemplo, quando começaram a nascer muitos bebês com microcefalia em consequência da infecção pelo vírus zika. A ajuda recíproca proporcionada por esses grupos – presenciais ou virtuais – é inestimável.

Os sentimentos são dinâmicos e se transformam uns nos outros. Um relacionamento amoroso pode iniciar com paixão e terminar com ódio e rancor. O contrário também acontece: lembro de um homem que atendi que rejeitou a terceira gravidez de sua companheira, o que a deixou muito magoada. Porém, o recém-nascido pouco a pouco o conquistou de modo que, ao final do primeiro ano, ele estava totalmente ligado a esse filho.